terça-feira, 13 de outubro de 2009

Campanha Memórias Reveladas

Campanha sobre desaparecidos políticos inclui potiguar

"Triste do poder que não pode". Esse era o ditado que Izabel Gomes da Silva costumava falar com frequência, angustiada com a certeza de que não veria mais seu filho, Virgílio Gomes da Silva, militante político na época da Ditadura Militar, de codinome Jonas, sequestrado e assassinado pelo regime e cujo corpo encontrado. Assim como Dona Bila - como era conhecida entre amigos e familiares -, muitas mães, esposas e filhos sentem até hoje a mesma angústia e, com base nisso, o governo federal lançou, no dia 27 de setembro, a campanha Memórias Reveladas, que tem como objetivo unir o maior número de informações sobre os desaparecidos políticos.

A história do potiguar Virgílio Gomes da Silva, nascido no município de Sítio Novo, ficou conhecida depois que ele comandou o sequestro do embaixador americano no Brasil, Charles Elbrick, em 4 de setembro de 1969, história que futuramente seria contada no filme O que é isso, companheiro?. Passados 40 anos, a história volta à tona, visto que Virgílio foi considerado pela história como o primeiro desaparecido político, sendo o marco inicail de um procedimento militar de desaparecimento de corpos que até então não existia.

A reportagem do Diário de Natal entrou em contato com familiares de Virgílio que relataram o drama vivido na época da morte e até hoje, sem notícias sobre seu corpo. O funcionário público Osvagrio Ferreira de Oliveira é primo de segundo grau de Virgílio e dedica grande parte do seu tempo aos estudos sobre a vida do guerrilheiro. Segundo ele, Virgílio saiu do Rio Grande do Norte com 18 anos, e foi tentar a vida em São Paulo, como muitos nordestinos faziam naquela época e fazem até hoje. Lá ele trabalhou na Empresa de Correios e Telégrafos e logo iniciou sua militância. "A família diz que ele entrou por acaso, mas eu não acredito que alguém se meta com isso por acaso. Ele foi porque quis", disse Osvagrio.

Logo em seguida Virgílio começou na Indústria Química e nesse momento começa a luta dele na esquerda. Ele entra para o Sindicato dos Químicos e Petroquímicos de São Paulo e em 1958 ingressa do PcdoB. "No golpe de 1964, o PcdB estava na clandestinidade. Nessa época, ou militava de forma ativa, na luta armada, ou se unia aos artistas, que usavam a força da música para tentar mudar a situação. Mas Virgílio não era um homem de letras. Então nessa época ele se aliou a Ação Libertadora Nacional. (ALN). Em 1968 foi à Cuba onde fez curso de guerra e guerrilha urbana e rural", explica Osvagrio.

No Brasil havia o Grupo Tático Armado (GTA), cujo comandante era conhecido como Marquito. "Mas nessa época, o tempo de vida de um comandante era cerca de seis meses e quando Virgílio retornou ao Brasil, Marquito morre e ele é indicado para o comando do GTA. Ele aprimorou a ação do Grupo que estava concentrado em São Paulo. Foi quando começou o contato deles com o Carlos Marighella, com o Fernando Gabeira. Ele assume o codinome Jonas e comanda a operação do sequestro do embaixaor. Quando o embaixador foi solto, prenderam eleno cruzamento da Avenida Ipiranga com a São João. Parece até a música do Caetano", afirmou.

Por Jussara Correia do Diário de Natal